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AMADEU BATISTA
( Portugal )
Amadeu Baptista (Porto, 6 de Maio de 1953) é um poeta português.
Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Poemas seus foram traduzidos para Alemão, Castelhano, Catalão, Italiano, Inglês, Francês, Hebraico e Romeno. É divulgador em Portugal de poetas espanhóis e hispano-americanos, além de colaborar eventualmente em jornais, revistas, antologias e livros colectivos, em Portugal e no estrangeiro, designadamente: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, E.U.A., Espanha, França, Grã-Bretanha, Itália, México, Roménia e Uruguai. Está representado em diversas antologias e livros colectivos.
É membro da Associação Portuguesa de Escritores e do Pen Clube Português.
De entre os seus vários livros inéditos, destaca-se Atlas das Circunstâncias (vencedor do Prémio Manuel Maria Barbosa du Bocage - modalidade de poesia 2009, promovido pela Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão).
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ENTRADA DE JERUSALÉM
Eu vi o sacrifício e o boi que chora,
e a pomba degolada na fogueira. Vi o cordeiro
imolado nas chamas, e a cidade
ainda erecta, pedra sobre pedra.
Eu vi o jamais
foi visto pela primeira vez,
Jerusalém, o céu e o deserto,
e o soluço imenso sobre o mundo
enquanto o fogo invadia tudo.
Vi a casa de Deus abandonada
e a salvação dos mortos maculada
pela eterna ausência que o espírito
chamou a esta torpe sedição.
Eu vi o sol e a treva que redime,
e a mágoa do esconjuro que persigo.
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CIRCUNCISÃO
Com uma fina lâmina e uma agulha acerada
circuncidarão as voltas do meu corpo e nada mais farei
do que sorrir: o pintassilgo canta, ainda que o caminho
para a montanha seja só terra cá em baixo e luz sagrada
nas alturas. E em Magdala eu sei que há árvores que mudam
de lugar, sendo que as aldeias em volta permanecem,
com as suas casas de adobe e os seus jardins resplandecendo
na luz crepuscular, seja dia ou noite, ou partam
ou regressem os rebanhos das pastagens.
E sei que há carros de fogo que descrevem círculos
sobre os povos, e que para o amor é necessário paciência,
tal como é preciso paciência para que o fruto amadureça
e a maçã posso comer-se, ou o trigo, que precisa de tempo
e de calor para crescer, ou a águia, que em voos sucessivos,
sempre em volta da presa, há-de cumprir a missão
de alimentar os filhos, para que, de águia em águia,
progrida o mundo e se amplie a natureza.
Ah, correm os rios pelo meu corpo, e sei como
não permanecerão selados os meus lábios, e que no meu peito
fervilhará a azáfama dos homens, e que o sangue há-de correr,
e que assim me entrego, agora, desde já,
para que a extensão do sacrifício seja demolidor
e eu cerre e não cerre os punhos, e esta água
se verta para além do deserto da Jordânia e seja vinho,
e este vinho se expanda para além da discórdia,
para lá da vertigem,
para lá de Roma e de Alexandria,
para lá do inferno
e do paraíso.
(In: Sobre as imagens. 2008)
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Página publicada em novembro de 2021
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